Aquele pedaço de realidade pendurada na parede, em cores brilhantes, revelava que a tragédia estava por toda a parte. Começara a ver logo cedo o que estava acontecendo em seu país.
Essa foi agora, essa semana.
Acompanhou o resgate de uma pessoa soterrada abaixo de quatro metros de barro. Ficou imaginando como aquele homem sobrevivera a 16 horas, comprimido por barro e vigas, sem água, com pouco oxigênio, sem comer. É um milagre, pensou!
Sim, era um milagre. Um daqueles que insistem em alimentar a fé humana e a esperança de quem não tem mais nada pela frente. O tão alardeado milagre, que virou uma espécie de mantra para milhares de pessoas que diariamente se equilibram em suas vidas sofridas, sem estrutura e sem teto seguro.
Essa foi em Alagoas, em junho
Para o governo, até que o tal do milagre ajuda. Com sua parceira, o poder público empurra com a barriga a prioridade e a decência que deveria ter com os impostos pagos por todos nós e que (apesar de exorbitantes) nunca são suficientes para financiar obras de infraestrutura em nossas cidades.
Há três anos era Santa Catarina que assistia às catástrofes e rezava por milagres enquanto aguardava a boa vontade pública. Sim, porque boa vontade e ajuda popular sempre tem nessas condições. O que falta é a intervenção do estado para prevenir não só as tragédias, mas garantir a integridade de seus governados.
- A seca é menos pior (sic) porque pelo menos tenho minha casa, minhas coisas e a oportunidade de ir atrás de minha sobrevivência. A água, não. Ela veio e levou tudo. Levou minha vida e tirou a de muita gente, disse o moço na janela pendurada na parede dela.
Essa, foi em janeiro de 2010, em Angra dos Reis
Pois bem, esse morador que perdeu tudo se junta a milhares de outros que hoje esperam por milagres em meio às tragédias. Pessoas que permanecem em suas casas, apegados a paredes rachadas que a qualquer momento irão desmanchar-se morro abaixo. Acreditam que um milagre irá preservá-los da destruição que os rodeia.
Mas, infelizmente, a essas pessoas, é preciso dizer: milagres não existem. O que existe é o descaso publico que anualmente volta a cenários de destruição e culpa as condições meteorológicas, admite um certo descaso, anuncia que começará a tomar medidas para evitar que tudo se repita no próximo ano e volta no ano seguinte ao mesmo cenário de destruição que, de novo, tem apenas os personagens. Todos à espera dos mesmos (novos) milagres
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