Por katia maiaEsse mundo politicamente correto a cada dia me surpreende mais. Eu já andava com um pé atrás em relação ao que se fala das cantigas infantis que, segundo a boa prática politicamente correta, não se deve mais cantar ‘atirei o pau no gato’, mas: ‘NÃO atirei o pau no gato’.
A cantiga do cravo, aquele que brigou com a rosa, também foi alvo de críticas pois incita a violência. Agora, pasmem: os livros de Monteiro Lobato correm o risco de serem banidos das escolas públicas porque estão sendo considerados racistas em alguns trechos!
Para que isso não aconteça, o CNE, em parecer publicado nesta quarta-feira no Diário Oficial da União, sugere que trechos racistas sejam reescritos ou que obra seja acompanhada de "estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura".
Na boa: mexer em obra de arte é um crime contra o patrimônio publico. Eu cresci lendo Monteiro Lobato e cantando as respectivas cantigas já citadas e posso dizer: não sou violenta ou racista – nem por isso nem pela falta disso. Simplesmente não o sou porque me foram passados valores que independiam de canções que eu cantarolava. As cantigas eram apenas um momento de lazer entre crianças sem a menor intenção de ser racista.
Para mim, o mundo politicamente correto está passando dos limites. Quando Monteiro Lobato escreveu em seu livro que a “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão”, ele não estava querendo depreciá-la, mas apenas retratar a cena com uma linguagem que cabia na época. É o retrato de um momento. Se formos reescrever todos os clássicos que se referem aos afro descendentes como pretos teremos que descaracterizar nossas obras.
Eu li as Caçadas de Pedrinho e não me lembro de sair chamando coleguinhas á minha volta de macaco por causa das linhas escritas no livro. O problema é que o mundo politicamente correto termina enxergando o que não existe em lugares onde não há o que se reprimir.
O grave está, isso sim, em diálogos depreciativos que presenciamos diariamente em novelas, séries e programas de televisão. Lá, sim, eu vejo filhos desrespeitando pais, amigos depreciando colegas e humoristas de mau gosto fazendo caricaturas de homossexuais e até de negros. Isso, para mim é de extremo mau gosto. Isso sim desvirtua valores e forma uma geração de crianças e jovens sem respeito pelo próximo.
Ah, tem ainda os jogos de videogame, ou Playstation, como é chamado hoje. Esses mostram pessoas matando-se umas as outras e incita a violência. Há ainda a internet, que traz muita coisa ruim para a vida de nossas crianças e jovens.
Agora, dizer que uma obra de Monteiro Lobato é racista e deve ser reescrita ou banida! Isso para mim é um desaforo! Perdeu-se a noção do razoável. Pois que se leiam os livros do autor do Sítio do Picapau Amarelo e se contextualize para as crianças a época em que foram escritos (se é que isso é preciso. Afinal, não devemos tratar nossas crianças também como débeis).
O que não dá é ver maldade em tudo. É, realmente, Monteiro Lobato escreveu As Caçadas de Pedrinho com o intuito racista. Muito boa essa.
O parecer que pede que o livro ‘As Caçadas de Pedrinho’ seja banido das escolas públicas foi aprovado por unanimidade pela Câmara de Educação Básica do CNE e foi feito a partir de denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.