quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Radiotaxi Mãetorista

por katia maia

memórias_de_uma_mãe_de_adolescentes

Quantas vezes ouvi minha mãe reclamar que ficara a noite acordada porque eu estava na rua, na noite, curtindo a balada. Naquela época eu não entendia. Achava exagero e rebatia que era tudo coisa da cabeça dela. Minha mãe frequentemente rebatia com um ditado:

- Trás de ti virá quem me vingará!

Eu confesso que na época, não entendia. Mas ela fazia questão de explicar:

- Simples, não desejo a você nada mais do que filhos idênticos à você.

- Como assim? Eu pensava e ficava imaginando que seria (até) legal ter filhos iguais a mim.

Qual o quê! Hoje entendo que minha mãe sofria com meu jeito, digamos, apaixonado por rua. Hoje eu entendo (também) que praga de mãe funciona!

Tenho filhos que adoram festa. A sorte é que ainda dependem de mim para ir e vir aos lugares - e gosto disso. Mas, sofro, ah, se sofro, nas madrugadas esperando a hora de buscá-los. Se tem uma coisa que é certeza, batata mesmo, na vida de uma mãe é o fato de que, depois que eles nascem perdemos definitivamente o controle sobre o nosso sono.

Essa é uma verdade para qualquer fase da vida de nossos filhotes e eu nem preciso explicar muito. Lembro-me deles pequeninos, bebês. O meu mais novo, então, foi uma coisa! Ele simplesmente trocava o dia pela noite. Cheguei até a ser personagem de uma matéria que falava dos horários nada convencionais dos bebês.

Na época, ele tinha três meses e eu só me lembro da minha cara na reportagem de mãe alucinada que não dormia nunca e desabafava para a repórter:

- Eu não durmo nunca! Quando o dia amanhece, ele (que passou a noite acordado) parece falar para o irmão (que dormiu a noite toda): pronto, fica com a minha mãe que agora eu vou dormir. E assim, eles se revezavam!

Bom, agora não se revezam mais. Agora, eles tem outro acordo: um vai para uma festa num ponto da cidade e o outro para o lado oposto. Para quem conhece Brasília, é mais ou menos assim: um vai para o final do Lago Sul e o outro para a ponta do Lago Norte. E eu...

Bom, eu tenho uma nova profissão: ‘mãetorista’. Levo um num canto, o outro no outro e vou para casa esperar a hora desse radiotaxi que vos escreve pegá-los em suas devidas festas.

Já assisti a muito filme no Telecine durante as madrugadas. Outro dia, vi o Vôo United 93, que trata do atentado de 11 de setembro. Na seqüência, passou um filme com o Dustin Hoffman e a Emma Tompson (Tinha que ser Você) e estava começando um filme nacional (De pernas para o ar), quando o meu celular anunciou que era hora de buscá-los.

Sim, porque coloco o despertador para me avisar exatamente o horário de sair de casa, vai que eu caio no sono e aí como fica?

Aliás, tenho uma regra com os meninos: na hora em que eu ligar, quero que atendam o celular para saberem que eu estou indo buscá-los. Se não atenderem já sabem que perdem pontos e o direito de ficar até mais tarde na próxima festa.

Aviso sempre que por volta da uma da manhã vou ligar e quero que esteja atentos ao celular porque não pretendo esperar na porta da festa até a hora em que decidirem dar o ar da graça.

Bom, tem funcionado. Até porque eles não querem voltar mais cedo na festa seguinte. Vamos ver até quando eu consigo controlar o horário deles.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Que travesseiro?

por katia maia

#memórias_de_uma_mãe_de_adolescentes

Imagine só a cena: dois rapazes entram em casa e começam o ritual de ‘desprendimento’ das vestimentas que utilizam. É quase um balé bufão. Primeiro, os sapatos, que ficam logo no hall de entrada da casa.


Depois, as meias, em seguida, a camisa – que fica em cima do sofá - e muitas vezes a bermuda que consegue avançar pela casa e chegar até o chão do quarto. Isso mesmo: o chão! Porque é complicado pegar uma camisa e colocar pelo menos em cima da cadeira.

Quantas vezes eles entrarem em casa, a cena se repete. Coisas de adolescentes? Sim, coisas de adolescentes. A percepção que eles tem de arrumação é um aspecto a parte dessa fase da vida. Talvez estejam com o olhar e o pensamento em questões essenciais para a existência de cada um nesse planeta.

Não conseguimos saber exatamente em quê estão pensando, mas percebemos que tudo é altamente fundamental para o aqui e agora. Tudo é para ontem e para o sempre. O imediatismo das coisas é impressionante quando estão avaliando a eternidade, e, a tranqüilidade é básica quando refletem e concluem que tudo vai durar para sempre e terão todo o futuro do mundo para se preocupar quando chegar a hora.

Entenderam? Nem eu! Difícil imaginar por onde andam os pensamentos desses seres espetaculares chamados adolescentes. Muitas vezes me surpreendo com um comentário absolutamente pertinente e maduro, do tipo “Mãe, a vida não é só trabalho. Você precisa aproveitar mais e se preocupar menos”, ou, com outro absolutamente infantil (dito e repetido inúmeras vezes, quando tive que viajar a trabalho ou dar plantão) como: “mãe, você prefere seu trabalho a ficar com os filhos”. Pode?

Não pode, mas é assim! É isso que faz o turbilhão de pensamentos que habita a mente adolescente. Acho que é por isso que a bagunça que promovem passa ao largo de tantas questões fundamentais para a existência deles na terra.

Outro dia (voltando à arrumação da casa) vi o meu caçula sair da sala, chegar até a cama (no quarto) e no trajeto naturalmente passar por cima do travesseiro que estava no chão junto a cama. Não agüentei:

- Por que você não pegou o travesseiro? Perguntei.

- Que travesseiro? Ele rebateu.

- Olhe para o chão, eu disse.

- Ah, não tinha visto. Disse ele, com a mesma naturalidade que usou para passar por cima do dito sem perceber. É incrível! Mas é assim.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Pronto, fiquei nervosa!

por Katia Maia

#Memórias_de_uma_mãe_de_adolescentes

Quem nunca ouviu a expressão: Mãe, relaxa! Eu, pelo menos escuto isso diariamente, inúmeras vezes, sem parar. É algo espontâneo e natural quando se convive com adolescentes. A frase simplesmente sai no momento em que você menos espera e nem se percebe nervosa. No momento em que o diálogo está apenas começando.

Aí eu me pergunto: sou eu? O erro está em mim? Estou realmente nervosa o tempo todo, todo dia? Tá certo que eu não sou uma das pessoas mais calmas do mundo. A rotina diária de corre daqui para lá, de lá para cá. Pega menino, leva na escola, corre para o supermercado, passa no banco e pára para abastecer o carro, me estressa naturalmente. Mas, o tal do ‘Relaxa, mãe!’, distribuído sem nenhum critério é uma injustiça comigo e que (confesso) me irrita! (rs)

Fiz o teste para tentar entender o que se passa na hora em que eles me mandam ficar calma. Sim, porque a frase: calma, mãe! É também um hit de sucesso.

A última vez em que ouvi uma dessas duas expressões típicas do mundo adolescente aconteceu quando os meus dois filhotes adolescentes começaram a ‘gentilmente’ se provocar. Algo totalmente inusitado no universo 'aborrecente'. chego a ter a certeza de que 'provocar-se' é quase uma necessidade deles - mas isso é assunto para outro post.

Pois bem, tudo aconteceu dentro do carro, num dia de semana, num transito daqueles de hora do almoço, com o sol a pino e o rádio ligado nas alturas numa das estações que eles gostam e que alternam freneticamente para encontrar a música predileta.

#Para entender: a gente tem uma regra justamente para tentar evitar conflitos dentro do carro. Como os dois gostam de ir na frente e ambos querem definir a estação e a música que deve tocar no rádio, fizemos um acordo: quem preferir ir na frente cede ao outro, que vai no banco de trás, o direito de escolher a estação e a música. ‘OK’? Nem tanto.

A regra sistematicamente vai por água abaixo porque o que está atrás pede para o 'DJ' da frente passar por todas as estações da moda (Jovem Pan, Mix, Transamérica etc) para que ele possa escolher a que mais lhe agrada. E aí, eu nem preciso descrever e explicar que a coisa termina em briga.

então, antes que chegue a esse estágio, eu falo calmamente (ainda):

- Parem vocês dois! Num tom amigável.

E aí, quase que automaticamente, eu ouço:

- Mãe, relaxa!

- Mas eu não estou nervosa! Retruco.

E eles:

- Mas calma assim mesmo!

- Como assim, cara pálida! Não estou nervosa, mas posso ficar. Aliás, já estou começando a ficar com esse seu relaxa! Falei já um tom acima.

- Viu? Viu como você está nervosa? Disse um deles.

- Pronto, fiquei nervosa! Não quero ouvir nenhuma palavra mais! Respondi já gritando.

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Calo-me...(da série #resgates)

*A partir de hj, sempre que eu resgatar algum texto meu escrito e não publicado, vou postar aqui. O que é escrito é para ser publicado....