sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Que travesseiro?

por katia maia

#memórias_de_uma_mãe_de_adolescentes

Imagine só a cena: dois rapazes entram em casa e começam o ritual de ‘desprendimento’ das vestimentas que utilizam. É quase um balé bufão. Primeiro, os sapatos, que ficam logo no hall de entrada da casa.


Depois, as meias, em seguida, a camisa – que fica em cima do sofá - e muitas vezes a bermuda que consegue avançar pela casa e chegar até o chão do quarto. Isso mesmo: o chão! Porque é complicado pegar uma camisa e colocar pelo menos em cima da cadeira.

Quantas vezes eles entrarem em casa, a cena se repete. Coisas de adolescentes? Sim, coisas de adolescentes. A percepção que eles tem de arrumação é um aspecto a parte dessa fase da vida. Talvez estejam com o olhar e o pensamento em questões essenciais para a existência de cada um nesse planeta.

Não conseguimos saber exatamente em quê estão pensando, mas percebemos que tudo é altamente fundamental para o aqui e agora. Tudo é para ontem e para o sempre. O imediatismo das coisas é impressionante quando estão avaliando a eternidade, e, a tranqüilidade é básica quando refletem e concluem que tudo vai durar para sempre e terão todo o futuro do mundo para se preocupar quando chegar a hora.

Entenderam? Nem eu! Difícil imaginar por onde andam os pensamentos desses seres espetaculares chamados adolescentes. Muitas vezes me surpreendo com um comentário absolutamente pertinente e maduro, do tipo “Mãe, a vida não é só trabalho. Você precisa aproveitar mais e se preocupar menos”, ou, com outro absolutamente infantil (dito e repetido inúmeras vezes, quando tive que viajar a trabalho ou dar plantão) como: “mãe, você prefere seu trabalho a ficar com os filhos”. Pode?

Não pode, mas é assim! É isso que faz o turbilhão de pensamentos que habita a mente adolescente. Acho que é por isso que a bagunça que promovem passa ao largo de tantas questões fundamentais para a existência deles na terra.

Outro dia (voltando à arrumação da casa) vi o meu caçula sair da sala, chegar até a cama (no quarto) e no trajeto naturalmente passar por cima do travesseiro que estava no chão junto a cama. Não agüentei:

- Por que você não pegou o travesseiro? Perguntei.

- Que travesseiro? Ele rebateu.

- Olhe para o chão, eu disse.

- Ah, não tinha visto. Disse ele, com a mesma naturalidade que usou para passar por cima do dito sem perceber. É incrível! Mas é assim.

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Calo-me...(da série #resgates)

*A partir de hj, sempre que eu resgatar algum texto meu escrito e não publicado, vou postar aqui. O que é escrito é para ser publicado....