por katia maia
E por falar em polêmica, o que dizer da vinda de médicos
estrangeiros para o Brasil? Olha só, não entendo nada de medicina. Meus
conhecimentos ficam por conta de ser filha de médico e de precisar dos serviços
de profissionais de saúde sempre que ela própria (a saúde) vai mal.
Acontece que, como filha de médico, vivi durante muito tempo
no interior do país, onde meu pai exercia a medicina. Lembro-me das condições
precárias que havia na cidade de Barreiras, na Bahia que, na época, não tinha sequer telefone ou televisão. Era
um fim de mundo. Mas, para lá meu pai foi como médico do exército para servir
no Batalhão de Engenharia e Construção.
Não posso falar muito dessa época pois eu tinha entre seis e
sete anos, mas posso assegurar que não eram as condições ideais para um médico
atuar e mesmo assim lembro-me do meu pai ter exercido sua profissão da melhor
forma possível.
Não consigo entender porque um profissional recém formado
não pode ir para o interior do país para dar início à sua carreira. Lá, as
condições são precárias? São e a gente sabe que o Brasil está deixando muito a
desejar no que se refere ao atendimento de saúde para a população em geral seja no interior ou na cidade.
Mas, mesmo assim, ainda prefiro a impressão que tive na infância de meu pai,
dizendo que ali, naquelas condições, ele aprendeu a exercer a medicina de
verdade.
Imagino que essa colocação tenha a ver com o fato de que o
médico tem que se virar para entender de tudo e para socorrer o paciente nas várias
especialidades médicas. É uma espécie de 'testdrive' para o mundo da medicina. E quando digo 'testdrive' não é pejorativo. Estou dizendo exatamente o que deve ser.
Sabemos, claro, que muitas vezes não há sequer um local para
atendimento em vários municípios do país. Mas, eu não consigo imaginar que uma cidade sem nenhuma condição
não mereça sequer uma pessoa qualificada para saber atender uma mãe com o filho
com bronquite, com febre, ou para
reanimar uma pessoa que esteja tendo um ataque cardíaco ou sei lá o quê.
Penso que um profissional qualificado nas redondezas é melhor do que nada.
Ter médicos estrangeiros é melhor do que não ter nada |
Claro que o médico precisará ter estomago e muita coragem
para aceitar esse desafio, mas os nossos estão realmente fugindo da raia.
Então, já que é assim: que vengan los médicos extranjeiros!
Qual a polemica? Se eles querem atuar em condições
precárias, ganhando os R$10 mil reais oferecidos pelo governo brasileiro e que
os nossos médicos simplesmente desprezaram, por que eles não podem vir?
- Ah, mas os cubanos
virão ganhando uma miséria! Rebatem.
Ok, quanto a essa crítica, fico com uma explicação que ouvi
do jornalista Ricardo Boechat que, de certa forma, me convenceu: ele comparou a
vinda dos médicos cubanos com salários pagos por Cuba – o governo brasileiro
repassa a grana para Cuba e essa paga o mesmo salario que seus profissionais
ganham lá - com a hipótese de um país contratar a
Petrobrás, por exemplo, para montar uma plataforma em seu país. A nossa empresa
certamente mandaria seus profissionais com os salários que eles recebem aqui, ou
pagam um salario acertado entre a Petrobrás e seus funcionários e o governo contratante,
independentemente do valor que o país pagará pelo serviço. E aí? Como fica?
- Ah, mas os salários de Cuba são indigentes, como é que os
médicos deles vão sobreviver aqui? Eles serão praticamente escravos.
Acrescentam os críticos.
OK, respondo eu. Nesse caso eu concordo: é preciso ver se
esses profissionais terão um plus nos salários para que vivam dignamente aqui, dentro do custo de vida brasileiros. Essa é minha única ressalva.
No mais, o que
vejo é um corporativismo de médicos que não querem fazer parte do programa e
não querem que outros aceitem. Aliás, se
existe uma classe que se une e se defende essa é a médica. O problema, é que essa é uma área que mexe com a
saúde das pessoas e que convive com o risco de morte a todo instante. Não dá para fazer beicinho e ficar de birra para que outros n!ao venham. Uma picuinha do tipo: eu não quero mas ninguém pode querer.
E é isso que está acontecendo. Cegos na defesa uns dos outros, os médicos e seus conselhos chegam ao cumulo de aconselhar outros médicos a não salvar
uma vida se o paciente tiver passado pelos cuidados de profissionais estrangeiros e esse de alguma forma tiver cometido um erro. A sugestão partiu do de um membro conselho de medicina de Minas Gerais. "Vou orientar meus
médicos a não socorrerem erros dos colegas cubanos", disse o presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), João Batista GomesSoares. Esse sim, é um doente (mental). "
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