Quando comecei a ler sobre web 2.0 foi inevitável (para mim) a percepção de que independentemente do meio em análise, a evolução das coisas é inerente. Veio-me à mente o exemplo dos automóveis, surgidos de forma rudimentar, com recursos limitados e que com o passar dos tempos atingiram um patamar onde os comandos (nos mais modernos) são acionados pela voz humana. E não para por aí, tenho certeza disso.
A internet, com toda invenção não escapou do caminho natural de aperfeiçoamento e evolução. Quando surgiu, todo mundo sabia, claro, que era uma ferramenta revolucionária e que traria mudanças estruturais no comportamento da humanidade. Mas, difícil imaginar, e ainda o é, aonde ela irá chegar. As mudanças são visíveis, dia após dia, e corremos para nos alinharmos com o meio que freqüentemente se atualiza.
As duas fases hoje colocadas para explicar a evolução da internet – web 1.0 e web 2.0 (já fala-se na web 3.0) – são etapas baseada principalmente no posicionamento que temos (nós consumidores, leitores e produtores da web) em relação à rede mundial de computadores. Saímos da posição passiva de consumidores e receptores dos conteúdos da internet (web 1.0) para produtores e muitas vezes controladores dos próprios dados (Web 2.0).
Especialistas da área de Tecnologia da Informaçao (TI) apontam outras diferenças importantes entre a Web 1.0 e a Web 2.0. A primeira é estática, a segunda, dinâmica; uma é proprietária (de sistemas e softwares fechados, que são vendidos) e outra aberta; a Web 1.0 é institucional, a Web 2.0, rede social; e finalmente, enquanto a Web 1.0 é um canal, a Web 2.0 se configura como uma plataforma*.
Na Wikipédia – um dos mais emblemáticos exemplos de web 2.0 e que veremos mais a frente o por quê? – traz a seguinte definição de Web 2.0: é a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva.
Ferramentas - A mudança de postura em relação às duas fases (ou faces) da web revela ainda uma necessidade que o internauta tem em interferir no meio e colocar suas opiniões. A mudança começou a acontecer com o surgimento de blogs e ferramentas de interação. No início, apenas um espaço para que o publico em geral pudesse expor suas idéias diárias e sem muita pretensão, os blogs transformaram aos poucos em mais do que simples diários na vida da rede mundial de computadores.
Aos poucos, as pessoas foram percebendo que o espaço a elas destinado na rede mundial podia render mais do que simples páginas de desabafos diários. A interatividade e a possibilidade de conquistar leitores para seus conteúdos e suas páginas começou a transformar o perfil da Web 1.0. A internet nos últimos tempos massificou-se e conseqüente a democratizou-se.
A linguagem ao invés de rebuscar-se se tornou mais acessível e simples para o publico em geral. As ferramentas permitem que pessoas comuns possam desenvolver e criar seus espaços sem ter ser especialista. As ferramentas estão disponíveis para o acesso irrestrito e o perfil de interatividade abre espaço para novas idéias onde o público é o ator principal da rede.
A nova Web traz recursos como as tags, que significa etiqueta, em português, facilitando o ordenamento de informações na rede. “Os dados deixam de ser indexados segundos categorias e subcategorias - taxsonomia, como a estrutura de pastas do seu computador - e passam a receber relacionamentos diretos com palavras-chave - folksonomia ou tagsonomia, como faz o cérebro humano-“, explica Marco Gomes, programador de intefaces.
De acordo com ele, dessa forma, “fica muito mais fácil descrever certa informação” já que “em uma estrutura por taxonomia se você tem uma pasta para trilhas sonoras e outra para a banda P.O.D. você só pode colocar a trilha sonora do Matrix Reloaded em uma das pastas (ou duplicar o arquivo). “ Em uma classificação por folksonomia você pode adicionar quantas tags achar necessária para descrever a música. Com isso a informação pode ser achada com muito mais facilidade”, diz.
As, aplicações, portanto, “fogem do padrão recebe informação > envia dados > recarega página comum na Velha Web”, conclui Marco Gomes. Na análise dele, com a Web 2.0 os ambientes passam a ficar mais parecidos com o desktop,”informações sendo enviadas e recebidas o tempo todo, sem reloads sucessivos da página e alto nível de interação entre o usuário e a aplicação”.
Iteratividade - A web 2.0 traz essa interatividade entre internauta e internet. As informações são construídas em parceria e o conteúdo – agora coletivo – conta com a participação de quem consome. Deixamos de ser passivos e tomamos um assento no lado de lá do processo.
A diferença essencial entre as duas fases da web, portanto, está no contraponto ‘ consumidores e criadores’. Na web2.0 encontra-se o público como criador e na 1.0 o consumidor. Na segunda fase, surgem os grupos, fóruns, sites interativos em que se pode efetuar a troca de conteúdos como fotos, vídeos, áudio, comentários, links etc. Tudo dentro do grupo ou fora.
A clássica tabela comparativa “Web 1.0 x Web 2.0”, elaborada por Tim O’Reilly, “pai” desta nova conceituação revela os contrastes entre os dois momentos da rede mundial. De um lado, o sistema unilateral da web, que tinha como carro-chefe o navegador e sua estratégia era usar o domínio de mercado, assim como a Microsoft no mercado de Pcs. A segunda que desvincula pacotes de software e lançamentos, e se volta para o serviço de busca de dados. Resultado: hoje o Google é uma marca à frente da distribuição de serviços diversos enquanto o Netscape foi apenas um produto*.
Os aplicativos da web eram fechados (web 1.0) e as empresas se preocupavam mais com a publicação e gerenciamento de dados. Na comparação entre as duas webs (se é que podemos chamar de duas, mas sim de uma continuação uma da outra) se impõe a comparação entre a Doubleclick e a Google AdSense.
Os serviços da DoubleClick são lastreados em um sistema de contrato formal de venda, limitando seu mercado a poucos milhares de grandes sites da rede mundial. Já o Google traz em sua essência Um plano de publicidade que ajuda criadores de sites, entre os quais blogs, a ganhar dinheiro com seu trabalho. Tornou-se a mais importante fonte de receita para as empresas Web 2.0. Ao lado dos resultados de busca, o Google oferece anúncios relevantes para o conteúdo de um site, gerando receita para o site a cada vez que o anúncio for clicado.
Plataforma - A web assume, portanto, a configuração de plataforma (deixa de ser considera uma rede de computadores), conforme denominação de Tim O’Reilly – o criador do termo web 2.0. A wikpédia é um belo exemplo d o novo momento da Web 2.0.
O site, construído a várias mãos, onde todos podem acrescentar informações, explica, em sua definição de web 2.0, o conceito de plataforma, onde os softwares funcionam pela Internet, não somente instalados no computador local, de forma que vários programas podem se integrar formando uma grande plataforma.
Por exemplo, os seus contatos do programa de e-mail podem ser usados no programa de agenda, ou pode-se criar um novo evento numa agenda através do programa de e-mail. Os programas funcionam como serviços em vez de vendê-los em pacotes. Estes serviços podem ser cobrados com uma mensalidade, como a sua conta de água.**
Os exemplos se multiplicam. Além da wikpedia, páginas interativas como o flirk (fotos) e youtube (vídeo) o internauta tem a possibilidade de produzir seus próprios conteúdos e as iniciativas começam a ‘pipocar’ na rede.
Começa então, uma fase de valorização do autor dos sites interativos. Abrem-se, portanto, as possibilidades de sucesso impulsionado pela veia criativa de quem imprime na rede a sua visão pessoal ou a sua seleção de assuntos.
O youtube, por exemplo, desde que foi criado, já publicou quase 7 milhões de vídeos. Aqui no Brasil, tornou-se uma verdadeira febre. Inicialmente visto com um espaço para vídeos amadores, hoje é tido como ferramenta de divulgação para empresas dos mais variados portes. O site que permite postar vídeos recebe 50 mil novos produtos por dia.
Banda larga - A disseminação da banda larga é um dos principais fatores que facilitaram e ajudaram a concretizar a disseminação de mecanismos como o youtube – característico da a Web 2.0.
Aqui no Brasil, segundo o Ibope/NetRatings, o número de usuários residenciais da internet ativos chega a 24,5 milhões em janeiro de 2009. Um avanço de 16% sobre o mesmo período do ano passado. Além disso, o brasileiro navegou mais no mês passado em relação a dezembro e também na comparação com janeiro de 2008.
Segundo a pesquisa, o internauta residencial no país navegou em janeiro 24 horas e 49 minutos em média, tempo 6,9% maior que o mesmo mês de 2008 e 8,7% acima do registrado em dezembro. Em dezembro, o tempo médio de navegação havia sido de 22 horas e 50 minutos.
De acordo com o que foi divulgado, o número total de brasileiros que vivem em residências com acesso à web é de 38,2 milhões - se for incluído o acesso fora de casa, o volume cresce para 43,1 milhões. O Brasil é hoje o segundo país em, número de acessos ao site norte-americano.
Gente como a gente - Iniciativas outras, porém, conquistam o internauta 2.0 por sua forma criativa e muitas vezes irreverente. Um dos sites de maior acesso e sucesso hoje na web, não traz notícias em tempo real, mas informações postadas por internautas sobre suas experiências. É o ‘vie de merde’. Site francês que oferece relatos sobre casos de azar ou pequenas tragédias vividas pelos internautas.
Na França, o site é um dos dez mais acessados desde janeiro do ano passado, quando foi lançado. Nos EUA, devido ao grande sucesso do site europeu, os americanos criaram a sua versão própria. O "F... My Life", onde qualquer um pode postar o seu desabafo, mas o site não se responsabiliza pela veracidade dos relatos.
É o internauta querendo mostrar sua cara e deixar o seu perfil na rede mundial. No jornalismo, a interatividade tornou-se quase uma necessidade para os profissionais da áreas, principalmente os articulista. Hoje, é praticamente obrigatório que cada um tenha seu blog para receber opiniões e críticas do publico em geral.
Outras ferramentas, como o RSS (Real simple Syndication), que permite ao internauta filtrar conteúdos, fornecem ao público da web a possibilidade de escolher conteúdos e traçar seu perfil,formando uma rede própria de informações e contatos, selecionados a partir de suas escolhas pessoais. A ferramenta permite que as informações atualizadas em sites de preferência do internauta cheguem até ele sempre que atualizada. Um item a mais que está mudando os hábitos do leitor da web 2.0, que não precisa mais entrar nos sites da web pelo caminho tradicional de pagina principal e a partir dele iniciar sua navegação pelo site.
“Há informação demais para as poucas horas de que dispomos. Por isso foram criados os agregadores de notícias, que reduzem tremendamente o seu esforço e tempo gastos na visitação dos sites que você mais navega”, escreve Ana Redig, Jornalista especializada em Internet e Web 2.0, em seu site.
Grande mídia - As grandes empresas de jornalismo estão descobrindo o potencial da Web 2.0. Comentaristas têm seus blogs para interagir com o público, mas a contribuição do internauta vai além de comentários postados em blogs de notícias. O internauta, hoje em dia, faz a notícia.
Em uma palestra, Cláudio Barizon, gerente de tecnologia da Infoglobo, exemplificou bem o que é a interferência do internauta nos processos de publicação e ‘feitura’ da notícia. Em agosto de 2007, lembrou, quando ocorreu um incêndio em um prédio no Centro do Rio de Janeiro, em poucos minutos, chegaram várias fotos e comentários a respeito. “A equipe do Globo Online nem pestanejou...: colocou como manchete na capa do site. Na verdade, segundo os próprios editores, não foram eles, os editores, que elegeram esta matéria como a principal do momento, mas os leitores”, disse.
A nova mídia online entra, assim, num processo de retroalimentação onde a colaboração pode vir de várias fontes diferentes. Embora ainda exista o trabalho autônomo de jornalismo clássico, com reportagens testemunhais, checagem de informações divulgadas pela imprensa e análises em geral, aos poucos, as redes sociais e os blogs têm alargado o campo jornalístico, difundido e debatendo as histórias que circulam no mainstream midiático, como descreve Fabio Malini, professor adjunto do Departamento de Comunicação, da Universidade Federal do Espírito Santo, no site jornalismo digital.
Ele coloca para debate o diagrama construído por John Hiler que traz em seu centro, os jornalistas de diferentes veículos. “Estes continuam atuando de forma clássica: cultivar fontes, que lhe oferecem informações e histórias”, diz e complementa: “na base, novos ecossistemas de comunicação, marcados por veículos impulsores de idéias e notícias. Esses canais são, na verdade, novos circuitos de difusão, como comunidades de conversação e relacionamento (orkut, facebook, msn etc), sites de notícias colaborativas, mídias pessoais (como blogs) e redes sociais de trocas p2p (bittorrent, youtube etc)”.
As informações, processadas por jornalistas, segundo ele, acabam retornando para o público na forma de histórias. “Essa retroalimentação contínua constitui a própria base do ecossistema da mídia online”, conclui***.
Portais brasileiros já trabalham com canais para que os internautas enviem depoimentos, fotos e vídeos. Exemplos como o Yahoo, IG, Globo Online, G1 e Terra e há também o Wikinews, um dos braços da Wikipedia, qualquer um pode escrever as notícias. Jornais como o francês Le Monde fornecem blogs aos seus leitores. Nos EUA, a revista Time faz entrevistas usando perguntas que os leitores enviam, assim como a brasileira Época.
Muitos leitores, dessa forma, podem tornar-se colaboradores e ou fontes de consulta para reportagens. A interação pode render bons frutos e o leitor assume um papel de parceria com o jornalista.
A internet comemorou no dia 13 de março de 2009, seus vinte anos de existência e estima-se que hoje existam mais de 80 milhões de sites, 625 milhões de computadores em rede e 1,3 mil milhões internautas, números que Tim Berners-Lee estaria longe de imaginar quando há duas décadas propôs a criação da World Wide Web. Uma comunidade mundial que tem em seu perfil e potencial a clara caracteristica da mudança. A web deixou de ser uma ferramenta associada ao ambiente de trabalho e à área acadêmica para se conectar a um estilo de vida digital, onde milhares de pessoas trocam informações, produzem noticias e colaboram para uma imensa rede de colaboração online.
Ao sairmos da web 1.0 para a 2.0 percebemos suas nuances e fomos levados a acompanhar essa mudança que não se encerra por aqui. Especialistas e estudiosos já apontam para uma nova onda: a Web 3.0, que seria a organização e o uso de maneira mais inteligente de todo o conhecimento já disponível na Internet.
A web 3.0, na visão do CEO da Google, Eric Schmidt , será sustentada por aplicações multiplataforma. “A próxima geração será formada por aplicações que conversem entre si. Serão relativamente pequenas e rodarão em qualquer dispositivo, tanto PCs quanto telefones móveis”, afirmou. Quem viver verá.
Referências
*Web 2.0 - Módulo 2 - O Legado da Web 1.0 e as Perspectivas da Web 2.0
** Wikpedia
*** http://fabiomalini.wordpress.com/2008/05/06/uma-nova-ecologia-midiatico/
****http://web2brasil.blogspot.com/
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