Por katia maia
@katiamaia
Foto: Agência Brasil |
Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que
passou... Não tinha! Para a minha
geração que viveu a adolescência na capital do país na década de 80, ultimamente
estamos tendo bastante do tempo que passou. Pelo menos em uma série de
oportunidades para recordar, relembrar e reviver o nosso momento “tão jovens”.
Pode-se dizer, até, que nesse ano de 2013, estamos tendo uma certa overdose boa – se é
que pode-se ver o lado positivo de uma overdose – da efervescência musical que
vivenciamos nos idos anos 80. Mais do que um momento cultural, experimentamos
nas ruas (também) um pouco do sentimento ‘vamos mudar o mundo’ da campanha
pelas diretas e do impeachment do Collor um pouco mais tarde, já na década de
90.
Bom, tudo isso, é para falar do show do Renato Russo - holograficamente
representado - nos palcos do Estádio (repaginado) Mané Garrincha, também
conhecido como Arena Brasília, da Copa de 2014.
Vinte e cinco ano depois, estava eu, lá, emocionada, recordando...
No primeiro show, lá nos idos das décadas passadas, eu não
pude ir. Minha mãe me proibiu. E, como filha rebelde, mas com obediência
diretamente proporcional à falta de grana, terminei não indo. No dia seguinte
ao show, quando deu no noticiário a hora e a razão da confusão, minha mãe
falou, do alto de sua vivencia:
- -
Foto: Agência Brasil |
Falou e disse. O show tinha terminado em tumulto, com gente
ferida e muitas vaias ao líder da Legião Urbana.
Bom, corta, edita, e aqui estou eu, mais de duas décadas
depois, com um filho de 17 anos e outro de 16, na arquibancada do novíssimo
Mané Garrincha, cheia de histórias para contar para meus filhos e cheia de
emoções para reviver.
O show começou com atraso, houve uma série de contratempos e
em várias ocasiões, o público reagiu.
O início, com a Sandra de Sá, foi desesperador. O som estava
péssimo e quase não se entendia o que ela cantava. Ficamos apreensivos. Será
que vai ser assim o show todo? (Pensei).
Não foi, o áudio se ajustou. Mas, os contratempos
continuaram. A transmissão pelo canal a cabo Multishow, só piorou a situação. O
show foi suspenso por uns vinte minutos, meia hora talvez, porque o sinal caiu
e o público, que havia pagado para assistir ao vivo, teve que esperar.
E nessa espera, um dos músicos presentes tentou levar
“Eduardo e Mônica” (aliás, foi a única vez que a música foi tocada no show, o
que nos faz ter certeza de que não estava na lista do dia).
Não adiantou o esforço do músico com o apoio do público, o
sinal não voltou! E aí foi a vez da Zélia Duncan, assumir o microfone, pedir um
pouco mais de guitarra para levar a canção “Quase sem querer”, num momento tampão
que teve o seu valor para quem estava ali pronto para se deixar levar pela
emoção.
O show ainda teve outros contratempos e, claro, vaias. Mas,
um show de Renato Russo na capital do país não é show do Renato Russo se não
tiver vaias, n’est pas?
A verdade é que passados e superados os probleminhas, o show
foi pura vibração. A minha geração que o diga. Nos emocionamos, e muito, com as
canções que marcaram uma fase bem fértil do rock brasileiro e, principalmente,
da juventude brasiliense que teve a alegria e a honra de viver uma fase tão boa
da capital do país.
Eu - e muitos outros
com os quais conversei depois sobre o show -
fomos às lágrimas com canções com “Tempo Perdido” e “Pais e Filhos”, esta
lindamente interpretada por Zizi Possi e Luiza Possi. Aliás, me senti vingada:
levei meus filhos e nesse show eu pulei mais do que eles. Dancei, cantei,
exorcizei.
Emoção à flor da pele, sem o medo de ser feliz. Me deliciei
com a versão de Por Enquanto/Quando O Sol Bater”, no violino de Anne Marie E “Índios”,
com Hamilton de Holanda.
Estava tudo tão bom que só podia ficar melhor com a
tecnologia que trouxe para o palco a holografia de Renato Russo, cantando “Há
Tempos”. Embora tivessem anunciado que seriam duas músicas holograficamente
reproduzidas, tivemos que ficar com uma apenas. Mas, tudo bem, valeu assim
mesmo.
Ah, antes de terminar, duas historinhas que eu não podia
deixar de contar. A primeira foi a falta de bis
no show. Ao final, todos os artistas subiram ao palco e cantaram “Será”. Nessa,
ficamos nos perguntando: será que vai ter “bis”? Não teve.
A solução, para acamar o público ávido por mais “Legião”,
foi o ex-baixista da banda, Renato Rocha (que deixou o grupo ainda no auge e
terminou enfrentando uma história de drogas e mendicância) que tentou levar o
‘hino’ Que país é esse?”. A música (aliás) perfeita para os tempos de
manifestação e povo nas ruas que vivemos recentemente, não estava prevista na
lista do show e esse ‘timing eles não sacaram e perderam uma bela oportunidade. Vá entender.
No fim das contas, saí feliz do show e contei para os meus
filhos o ‘momento Renato Russo’ na minha vida, que aconteceu quando eu tinha
meus vinte e poucos anos e frequentava o ‘Gate’s Pub’. Na época, na porta do bar, apareceu Renato
Russo.
Tentou puxar papo comigo e uma amiga. Não demos atenção e
não me pergunte por que. Diante de nossa indiferença, Renato Russo se virou
para nós duas e disse:
-
buuuuu, buuuuuu, buuuuu... Pode vaiar, todo
mundo vaia Renato Russo em Brasília.
Dito isso, deu meia volta e partiu. Foi a última e única vez
que vi Renato Russo na vida.
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