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Ficou olhando para as seis letras escritas naquele curto espaço de teclado - D-E-L-E-T-E - e com a determinação de quem quebra uma dieta e come um brigadeiro sem culpa, feliz da vida clicou ‘DEL’.
Estava apagando as mensagens arquivadas, acumuladas e guardadas em sua caixa de e-mail há séculos. Todos os passos de uma história que de real não tinha mais nada e que ela precisava limpar, fazer a faxina geral.
- Por que ainda mantinha aquelas malditas falas arquivadas? Indagou-se.
Agora, pensando bem, percebera que o mundo virtual permitia a ela fazer o que sempre tivera vontade de realizar na vida real: ‘apagar’ alguém de sua hitória e nunca mais ouvir falar dela. Pessoas próximas ou distantes, não importa. Tinha sempre uma ou outra que merecia o carimbo DEL!
Naquele momento, estava riscando do mapa (de sua vida) aquela pessoa especificamente. Não queria mais ser incomodada e todas as mensagens daquele ser estariam a partir daquele exato momento bloqueadas – outra ferramenta super útil. Bloquear alguém!
- Bloquear alguém! Falou em voz alta, com um ar de felicidade.
- Nada como bloquear alguém! Repetiu.
Quantas vezes sonhara criar uma barreira e se proteger do assédio de pessoas ‘non gratas’. Já praticava a atitude ‘bloqueadora’ - um pouco - na vida real. Bloqueara algumas pessoas em sua vida e a lembrança delas passara a uma remota fagulha num passado distante.
Quando decidia, deixava de atender os telefonemas, parava de perguntar pela pessoa aos amigos próximos e deixava de freqüentar espaços onde (tinha certeza) encontraria a tal ‘persona non grata’. Simples assim.
Mas, o mundo real é menos generoso do que o virtual quando se trata de bloqueios pessoais e há sempre a chance do cruzamento de vias, avenidas e caminhos. Por isso, amava o virtual.
A tecla DEL resolvia tudo e a partir daquele gesto simples e indolor, sem precisar explicar nada, apagava de vez a existência do outro: nada de e-mails, redes sociais, menssegers ou talks. Simplesmente o vazio, o vácuo, a ausência. Yes!
- Tchau boçal, talvez no Natal eu (não) pinte de novo. Cantou, adaptando a letra da Blitz.