sábado, 16 de janeiro de 2010
Fernando meirelles para Época
Cineasta confirma “consultoria” ao Partido Verde
Diretor Fernando Meirelles fala à Época sobre a sua relação com a campanha presidencial que Marina Silva disputará pelo Partido Verde
Juliana Arini
Época - Como começou a sua relação com o Partido Verde (PV)? Partiu de um convite ou foi espontânea?
Fernando Meirelles - Eu disse que votaria na Marina ao ser abordado por um programa de TV. E o Fábio Feldman (possível candidato ao Governo de São Paulo pelo Partido Verde), pai de um amigo do meu filho, ficou sabendo e me ligou para conversarmos a respeito e pedir uns palpites sobre a comunicação da candidata. Depois deste encontro me dispus a fazer os filmetes para o Instituto Sócio Ambiental e por causa disso acabei dando palpites. Faço isso como eleitor, não pretendo me envolver na campanha profissionalmente.
Época - Qual foi a sua participação no programa que vai ser exibido no horário partidário do Partido Verde, em fevereiro?
Meirelles - O programa do PV está sendo produzido por uma produtora do Rio de Janeiro, não estou envolvido. Fiz alguns programetes com a Marina para o site do Instituto Sócioambiental, em novembro, e nos demos bem. Então eles pediram uns palpites apenas. Só isso.
Época - A imprensa nacional divulgou que o filme vai fazer uma comparação da trajetória da senadora Marina Silva com a do presidente Lula? Está certa essa afirmação?
Meirelles - Sem querer ser evasivo, não sei exatamente qual será o tom do programa do PV, mas não há dúvida que a trajetória da Marina e a do Lula têm muita relação. Os dois vieram de lugares aparentemente improváveis para se forjar líderes do país, a diferença é que o Lula cresceu por saber fazer bons discursos, pela sua sensibilidade política, enquanto a Marina optou pela via da educação. Estudou, virou uma educadora, através do estudo e de leituras passou a atuar e encontrou seu espaço. Em 40 anos se tornou uma mulher extremamente esclarecida, que sabe onde está pisando, conhece as correntes de pensamento ao seu redor e tem uma visão de mundo consistente e extremamente moderna. Se o Lula gosta de ser visto como o pai dos brasileiros, o pai que dá a mesada, a Marina talvez tenha o papel da mãe, aquela que vai dizer: "Vai estudar para poder ser alguém na vida. " Particularmente gosto mais deste papel.
Época - Qual seria o traço mais relevante da trajetória de Marina Silva que vai ser abordado no filme?
Meirelles - Não posso responder pelo PV, ou por ela, mas a educação parece ser o universo natural da Marina. Talvez até mais do que sua bandeira mais conhecida, o desenvolvimento sustentável. Ela fez o Mobral com 16 anos, uma idade em que já tinha um senso crítico e podia pensar no próprio aprendizado até passar a ensinar. Por ter vivido esta experiência de ponta a ponta conhece muito bem os problemas da falta de qualidade do ensino no Brasil. Acredito que esta atenção que ela dá a educação seja colocada no programa. Seria algo natural.
Época - Em uma entrevista recente ao Jornal da Tarde o senhor declarou que vai apoiar a candidatura de Marina Silva. Porque tomou essa decisão?
Meirelles - Sinto que estes últimos 16 anos que muitos consideram ser o início de uma nova etapa para o país sejam na verdade o final de um ciclo que começou com Getúlio Vargas. Em 2010, não é mais possível defender o desenvolvimento a qualquer custo, o crescimento a taxas altíssimas. Será que não está suficientemente claro que não há mais espaço no planeta para crescermos de qualquer maneira. Que nossos recursos naturais estão se esgotando, que em pouco tempo não haverá mais peixes no mar ou gelo na calota polar? Por mais óbvias que sejam estas constatações a outra candidata ainda fala em aceleração do crescimento e extração de petróleo como eixos do seu programa. Acha razoável fazer uma estrada ligando Manaus a Rio Branco. Qual a diferença desta visão de país da visão que era defendido por Getúlio e todos os governos que o seguiram? Essa visão de desenvolvimento do século passado precisa ser enterrada e a Marina Silva parece ser a cabeça que consegue ver e pensar um mundo onde os paradigmas são outros. Por isso sinto que ela seja o que há de mais novo e moderno, fora seu comprometimento com o que diz. Esse é um dos pontos principais por eu apoiar a candidata, não que meu voto vá fazer grande diferença.
Época – Não houve inovações nos governos anteriores?
Meirelles - O governo FHC universalizou o acesso ao ensino no Brasil e o governo Lula deveria ter dado o passo seguinte, que seria o investimento na qualidade de ensino, mas infelizmente isto não foi feito. Foram oito anos praticamente perdidos para a educação o que significa uma geração sem capacitação adequada, o Brasil melhorou seus índices econômicos mas caiu nos rankings de educação no mundo. A busca de educação de qualidade é a outra prioridade para a Marina Silva, natural para quem venceu por causa da educação que teve. Isso também explica meu voto.
Época - O senhor também vai colaborar na direção (ou consultoria) dos vídeos feitos para o programa eleitoral gratuito do PV?
Meirelles - Mesmo que me dispusesse a dar mais palpites não poderia, pois no meio do primeiro semestre devo ir para os EUA para preparar e rodar um novo longa.
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