Procuradora vê evidência de propina no exterior ao PT
Documentos apreendidos com diretores da Camargo Corrêa envolvem também PMDB
Papéis descrevem depósito em "conta internacional" a petistas do Pará em torno da construção de 5 hospitais no Estado; envolvidos negam
LILIAN CHRISTOFOLETTI
FLÁVIO FERREIRA
DA FOLHA DE SÃO PAULO
O Ministério Público Federal em São Paulo afirma ter localizado, entre documentos confidenciais apreendidos pela Polícia Federal com diretores da construtora Camargo Corrêa, comprovantes de pagamentos de propina no exterior ao Partido dos Trabalhadores do Pará.
Segundo a procuradora da República Karen Kahn, para conseguir um contrato de construção de hospitais no Pará, governado por Ana Júlia Carepa (PT), a Camargo Corrêa repassou ao PT, em abril de 2008, R$ 261.285,52 por meio da conta nº 941-11-013368-2, no First Commercial Bank, na China.
O PMDB do Pará, diz Kahn, também teve a sua cota, cerca de R$ 130 mil, paga no Brasil.
Os envolvidos rebateram ontem as afirmações da Procuradoria (leia texto abaixo).
Os detalhes dos supostos pagamentos constam em arquivos digitalizados apreendidos com Pietro Bianchi, diretor da construtora. Quando a procuradora apresentou todo o material ao juiz federal Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, em novembro, ele pediu o aprofundamento da investigação.
Desde a semana passada, porém, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Asfor Rocha, suspendeu toda a Castelo de Areia. O ministro atendeu a um pedido da defesa da empresa, que sustenta que a operação é nula porque, entre outros motivos, a quebra do sigilo telefônico dos suspeitos foi baseada em denúncia anônima, o que não é permitido por lei.
Taiwan
Segundo a Procuradoria, a negociação PT-Camargo Corrêa foi em torno da construção de cinco hospitais no Pará, em abril de 2005, nos municípios de Belém, Santarém, Breves, Redenção e Altamira.
Num dos papéis apreendidos, está escrito que deveria ser pago ao PT, em "conta internacional", R$ 261.285,52. Esse pagamento, segundo Kahn, foi feito na conta em Taiwan (China) em nome de Tiger Information -o uso de nomes fictícios é comum em paraísos fiscais para camuflar o real titular.
Ainda segundo Kahn, foi localizado um comprovante de transação internacional no mesmo valor. "Tal fato conduz à invariável conclusão de que os pagamentos [...] foram, de fato, feitos a título de propina, direcionada aos próprios partidos ou a alguns de seus integrantes, não identificados, em troca de facilidades obtidas na construção de obra "hospital do Pará'", disse a procuradora.
Em outro registro, está escrito "PT 5%", "PMDB 3%", "JB, eleição e partido" e "Carlos Botelho" -mesmo nome do consultor do governo do Pará.
Outras obras
Kahn citou outras obras que envolveriam "robustos indícios" de pagamento ilegal. Em Caieiras (SP), a Camargo Corrêa teria pago R$ 2,1 milhões para mudar a lei de zoneamento. Há menções ao "Pres da câmara de Caieiras KF" e "Sec de segurança WP". Para Kahn, são referências a Cleber Furlan, ex-presidente da Câmara Municipal, e a Wladimir Panelli, ex-secretário da Segurança.
Num contrato com a Transpetro (da Petrobras), há a informação de um suposto pagamento de R$ 291 mil a Sérgio Machado, identificado como presidente da empresa. No papel, há o endereço de Fernando Botelho, conselheiro da construtora, onde, segundo Kahn, o pagamento teria ocorrido.
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