ÊXODO A CAMINHO DA INCERTEZA
Autor(es): Agencia O Globo/Gilberto Scofield Jr.
O Globo
A lentidão na entrega de ajuda humanitária aos desabrigados de Porto Príncipe está acelerando o êxodo de milhares de haitianos em direção a pequenas cidades do interior do país — ou localidades onde operam resorts para estrangeiros — e à vizinha República Dominicana, em busca de um lugar para tocar a vida enquanto a reconstrução do país ou a recuperação parcial da capital não acontece. Muitos temem a ação de bandidos, após a fuga dos criminosos que estavam presos na Penitenciária Nacional, e a violência, por conta da escassez de alimentos e água que continua assombrando os sobreviventes.
Ontem, para agilizar a distribuição de doações, o Pentágono informou que voos trazendo ajuda humanitária terão dois pontos auxiliares de pouso além do congestionado aeroporto haitiano, atualmente administrado pelos EUA: um na cidade de Jacmel e outro na República Dominicana. E soldados americanos eram vistos atuando mais ostensivamente na capital, em pontos como o Palácio Nacional — para onde levaram suprimentos — e o vizinho Hospital Geral
Fila na embaixada americana
As imagens de gente rumando para fora da cidade com imensos sacos na cabeça ou arrastando malas de viagem a pé ou em caminhonetes superlotadas já fazem parte do conturbado cenário da capital desde o terremoto da semana passada. A fila para obtenção de vistos na embaixada dos Estados Unidos (próxima à base militar brasileira General Barcellos, no bairro de Camp Charlie) reúne centenas de haitianos que têm alguma ligação com o país e querem aproveitar a chance para emigrar. A maioria tem o visto recusado.
Temendo uma fuga em massa de haitianos em botes e barcos para Miami, na Flórida, no estilo dos refugiados cubanos, o embaixador americano no Haiti, Raymond Joseph, desencorajou os desesperados. Todos os dias, um avião de carga da Força Aérea americana especialmente equipado com radiotransmissores sobrevoa por cinco horas o país devastado, transmitindo notícias e uma mensagem gravada pelo diplomata.
— Não corram para os barcos para fugir do país — diz o embaixador. — Se vocês acham que ao chegarem aos EUA vão encontrar as portas abertas, não é esse o caso. Eles vão interceptálos ainda no mar e vão mandá-los de volta para casa.
Isso, porém, não desanimou Joseph Moise, um dos centenas de haitianos que ontem enfrentavam um calor infernal na porta da embaixada para obter o visto. Ele pretendia ir para o sul da Flórida, distante 1.126 km do Haiti.
— Tenho um primo que mora nos EUA e falo inglês. Ou seja, tenho onde ficar e sei me comunicar. Isso me ajuda a fazer qualquer coisa nos EUA, não? — afirmou ele, avisando que não desistiria de seu objetivo mesmo após descobrir que apenas falar inglês ou ter familiares nos EUA não o credenciam a obter um visto. — Então vou me juntar aos meus amigos e vamos de barco. Eu já perdi meus parentes e não consigo voltar para a casa. Então não tenho mais nada a perder.
Os arredores do aeroporto internacional também estão congestionados de haitianos dispostos a vender aquilo que lhes restou para embarcar num dos inúmeros aviões militares e cargueiros que entram e saem do país com doações. Mas a imensa maioria está indo para a periferia ou localidades no interior onde o terremoto não destruiu casas com tanta intensidade.
O problema, dizem os especialistas no país, é que a região não tem infraestrutura para abrigar tanta gente, o que deve ampliar a favelização e, possivelmente, a criminalidade.
O sonho de muitos dos esperançosos migrantes esbarra nos preços agora inflacionados das passagens de ônibus.
De Porto Príncipe para Les Cayes, cidade litorânea no sudoeste do país, a pouco mais de 180 km da capital, o valor desembolsado por pessoa subiu de cerca de US$ 5 para US$ 10 — e, ao lado dos pontos de partida dos veículos, famílias que não têm como pagar pela viagem sentam-se e esperam, com o que sobrou de seus pertences.
Os ônibus vão abarrotados, mas regressam quase vazios à capital.
Na fronteira com a República Dominicana, a segurança foi reforçada, mas não se vê ali o tumulto evidenciado nos três primeiros dias após o terremoto, quando centenas de haitianos imploravam que funcionários da imigração os deixassem passar. Sandra Severino, porta-voz do presidente do país vizinho, Leonel Fernández, afirmou que, por ora, não se registrou uma onda grande de imigração ilegal.
— Na verdade, temos relatos de que muitos haitianos que já moravam na República Dominicana estão voltando para o Haiti para ajudar parentes e amigos que foram afetados pelo terremoto — afirmou Sandra.
Ontem, a porta-voz de ajuda humanitária da ONU, Elizabeth Byrs, rebateu críticas sobre as falhas na logística de distribuição de ajuda (que estaria estimulando o êxodo por deixar milhares de pessoas sem água ou comida).
Ontem, o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, afirmou que 72 mil corpos foram retirados até agora dos escombros.
— Nesse tipo de catástrofe, a ajuda não chega em poucas horas. Não esqueçam que esse terremoto sacudiu a capital do país. Muitos funcionários morreram e muitos serviços que normalmente usamos num caso como esse não estão disponíveis.
Distribuição de ajuda ainda lenta
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas contabiliza ter ajudado, até a noite de segunda, 270 mil pessoas com refeições prontas e biscoitos energéticos — ainda pouco diante dos cerca de três milhões de desabrigados pela catástrofe. A meta é fazer os mantimentos chegarem a um milhão de pessoas esta semana e a dois milhões nos próximos 15 dias.
Além disso, o programa doou 38 mil litros de combustível — cada vez mais caro e disputado — a organizações de ajuda e ao governo local. O objetivo é abastecer veículos de distribuição de alimentos e agilizar a chegada de 4,2 milhões de rações altamente nutritivas a crianças. Ontem, os EUA jogavam de helicópteros cargas de mantimentos atadas a paraquedas.
— Pretendemos distribuir ainda 10 milhões de rações a adultos — disse a porta-voz do PMA, Emilia Casella, esclarecendo que o montante é suficiente para alimentar meio milhão de haitianos três vezes por dia, durante sete dias.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
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