da Folha de São Paulo
Mulheres pagam até R$ 200 para guardar casaco de pele de R$ 100 mil em "geladeira"
Ela corre os dedos pelo casaco felpudo de raposa e o entrega ao dono do ateliê de peles. Sua peça favorita vai passar os próximos meses hibernando entre outros tantos visons, martas-zibelinas, chinchilas e coelhos dentro de uma câmara fria.
"Pele é fascinante, mas as pessoas precisam saber que precisa de manutenção", explica a professora inglês Gilda Azevedo, 50.
"É horrível ir ao teatro e ficar do lado de uma mulher com um casaco de pele cheirando a naftalina."
Gilda confiou sua raposa a uma "geladeira de pele", um quarto onde a temperatura é mantida ao redor dos 15C e a umidade é baixíssima - ambiente ideal para que a pele se mantenha brilhante e macia.
Segundo Luiz Mori, 60, dono em São Paulo de uma das poucas "geladeiras de pele" do país, o casaco mantido no guarda-roupa de casa por muito tempo fatalmente acaba embolorado e com um odor desagradável.
"Pode até apodrecer", afirma o empresário.
Para conservar a pele refrigerada, a cliente paga um aluguel que, dependendo do tamanho e do animal, vai de R$ 40 a R$ 200 por mês. A dona de uma estola, obviamente, paga menos que a de um casaco longo.
Coelho
O investimento mensal vale a pena, garante Marcos Mori Jr., 57, irmão de Luiz Mori e dono de outra "geladeira de pele" em São Paulo. O casaco de zibelina russa chega a custar próximo dos R$ 100 mil.
Mais modesto, o de coelho vale cerca de R$ 3.000. Os animais são criados em fazendas especialmente com o fim de virarem casacos.
Herança
"Muitas clientes chegam aqui com casaco que já não tem conserto, principalmente aquela que foi herança da mãe, da avó. Ficam bastante frustradas. Mas, por causa do valor sentimental, acabam até guardando a pele estragada", diz ele.
No fim do ano, as "geladeiras" veem uma debandada de peles. É a época em que as mulheres viajam para aproveitar o inverno rigoroso da Europa ou dos EUA.
Muitas clientes também resgatam suas peças para usá-las nos meses de frio no Brasil em estâncias de inverno ou no Sul do país.
"No frio de Campos do Jordão", exemplifica Luiz Mori. "Ou num casamento mais fino. Ali você certamente verá mulheres de vestido cobrindo os ombros com pele. É elegante", diz o dono da loja de conservação de casacos de pele animal.
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