Cercado por assessores, ao fim de rápido almoço digerido na mesa de seu gabinete, o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., estava desconfortável e ansioso. No início da tarde, Tuma Jr. ainda não sabia o destino que os desdobramentos da crise lhe reservariam. Ele recebeu O GLOBO por cerca de 30 minutos, antes de pedir férias ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e negou que tenha sido pressionado para deixar o cargo. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
O GLOBO: O que senhor acharia se o governo pedisse para o senhor sair (do cargo)? ROMEU TUMA JÚNIOR: Depende de como pedir, de quando pedir e por que pedir.
Em algum momento o senhor pediu para deixar o governo, depois que as conversas com Paulo Li foram reveladas? TUMA JR: De jeito nenhum. Fiz isso antes, quando o Paulo Li foi preso. Desses fatos, todo mundo sabia.
Meu chefe à época (o ex-ministro Tarso Genro) também.
O que tem de novo? A publicação no jornal do que já estava arquivado. Eu me apresentei para ser ouvido quando uma pessoa da minha relação tinha sido presa. Até aquela data, para mim, era uma pessoa em quem eu confiava. Perguntei a ele (Tarso): Você quer que eu me afaste? Ele respondeu: toca o pau.
E o conjunto de denúncias? As conversas? O senhor era secretário Nacional de Justiça e tinha intimidade com o Paulo Li? TUMA JR: Estão querendo fazer com que a opinião pública perceba que eu era amigo de um grande criminoso.
Nunca tive amigo criminoso, não teria e não andaria com criminosos. Eu tinha intimidade com alguém que eu entendia ser de bem. As pessoas que andam comigo sabem disso. Não adianta ser mulher de César, tem que parecer. Ele não tinha nenhum sinal exterior de que pudesse estar cometendo crime.
E o senhor nunca percebeu nada de errado com Paulo Li? TUMA JR: Nada. E eu sou polícia há 22 anos! Teria percebido.
Ele engana bem, então? TUMA JR: Não é isso. O cara pode ter começado a cometer (crimes) há menos tempo. Não sei. Não posso prejulgar o cara. O que posso dizer é seguinte: é um cara que gozava da minha amizade e não tinha nenhum sinal... até porque eu não vivo com ele o dia inteiro.
Até porque eu vivo aqui, e ele, em São Paulo. Eu não sei nem o que as minhas filhas estão fazendo. Eu não posso controlar a vida das pessoas.
O senhor não considera que errou? TUMA JR: Não. Eu tenho que partir do princípio que o cara é meu amigo. Eu não cometi nenhum crime, nenhum desvio funcional, nenhuma ilegalidade. Não tem nada do que eu fale com ele que não seja pinçado de um contexto. Não dá para fazer dedução do que as pessoas acham. Não dá para condenar ninguém por dedução. Onde está o princípio da legalidade?
Seus amigos têm acesso privilegiado à Secretaria? TUMA JR: Se você bater na minha porta, eu tenho que atender. Eu faço isso todo dia. Eu sou um servidor público. Eu sou obrigado a te ouvir. Eu não sou obrigado a te atender. Mas sou obrigado a ouvir.
É papel de servidor público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário