Se eu estou invisível e você também, como vamos saber se estamos online? Este dilema a menina vivia todos os dias. Sempre que ligava o seu computador, corria para a lista de amigos e procurava o nome dele. Infrutiferamente, porque ele nunca estava ‘on’.
Não estava ‘on’ mas vira e mexe a chamava para conversar sem que seu nome aparecesse na lista. Foi daí que ela começou a perceber que ele não queria ficar visível e queria ter o privilégio – ou seria prequisito de ter o beneficio da escolha – do momento mais adequado para conversarem.
Dessa forma, ficava sempre num vôo no escuro, a espera da benevolência do ser virtualmente amado.
Foi a partir daquele dia que decidiu: iria se tornar um ser virtual invisível para a comunidade web. Clicou no ícone ‘status’ e sem pestanejar escolheu a opção ‘invisível’.
- Pronto! Pensou. Agora, você não saberá mais se eu realmente sumi da rede de computadores ou se decidi não me mostrar mais para ninguém, ou, melhor, só para você, ou, melhor, eu decido a hora em que iremos conversar.
Achou que tinha encontrado a fórmula da vingança. Estava cansada de diariamente buscá-lo no mundo online e decepcionar-se ao perceber que ele não estava à mostra para ninguém.
- Ou pelo menos, não para mim. Conjecturava.
Ela era assim mesmo. Ficava fantasiando, inventando possibilidades, elaborando silogismos. Pensava:
- Se ele não está sempre ‘visível’. Se ele deixa ser ‘visto’ somente por quem ele quer falar e ele quase nunca está ‘online’ para mim, logo, ele não quer falar comigo.
Sofria, divagava e desterrava-se. Ela era dramática.
- Mas, se eu fico invisível, ele não me saberá por aqui e não me chamará nunca! Vivia o dilema.
De repente, eis que surge um aviso piscando em sua tela. Alguém a chamou para conversar. Imediatamente fecha a janela de estudo e corre para ver de onde vem o aviso.
- É ele! Constatou, sorriu para si mesma, animou-se e ficou feliz.
Parou. Pausa para pensar estrategicamente:
- Se eu responder imediatamente, ele logo deduzirá que eu estava aqui de prontidão esperando o piscar de sua mensagem. Se eu demorar a responder, ele pode achar que eu não estou no computador e desistir de bater-papo. Meu Deus, dúvida cruel! Tenho que agir no ‘time’ certo. Aconselhou a si mesma.
Esperou alguns rápidos segundos e respondeu:
- oi. Td bem?
[Espera... Expectativa... Ansiedade]
Ele, sim, demorou o tempo certo para retornar:
- Td bem e com vc?
Olha só... Estamos progredindo, respondeu e ainda perguntou algo. Estamos entabulando um diálogo. Comemorou
- Estou bem.
[Silencio...]
[Espera...]
Ela tomou a iniciativa:
- Hoje, pensei em te ligar. Passei por perto de sua casa. [enter]
Não! Por que eu digitei isso! Pronto, agora, me entreguei total. ‘Tô’ ferrada!
- Mesmo, que horas (Ele perguntou)
Respondeu! Não foi bola fora!
- pela manhã (Digitou)
- eu não estava em casa. (Ele disse)
- ah... (Murchou)
[Silêncio... Espera... Um minuto, dois, três e nada!]
Ela então decidiu: vou fechar essa caixa de diálogo e me colocar também ‘in-vi-si-vel’. Agora, ele verá. Não nos falamos mais. Quando me procurar, perceberá que já me fui. E eu decidirei a hora em que iremos conversar!
[invisível]
Não se passaram três minutos, decidiu ficar ‘visível’ de novo.
- Vai que ele percebe que eu voltei e me chama novamente para conversar.
Não rolou. Decidiu bloqueá-lo e deletar de vez aquele romance virtual.
Achei interessante a sua abordagem em relação aos encontros e desencontros que as pessoas estão sujeitas - ou sujeitam alguém - no bate papo, ao invés de mostrarem o que realmente sentem e pretendem. Confesso que li mais de uma vez; mas não fique animada, porque não denunciarei quantas vezes. ;)
ResponderExcluirEsse mundo virtual é um universo no qual ainda estamos engatinhando. Não sabemos realmente o alcance que pode ter, os beneficios e malefícios que pode causar em nossas vidas. É um mistério.
ResponderExcluirObrigada, pelo seu comentário.
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É um prazer, ainda mais eu, que NÃO gosto de escrever. É... Katia, o problema que você levantou é o que faz as pessoas agirem como se usassem uma máscara na Web. Ninguém se mostra por medo do que está do outro lado e, creio eu, que acabam fantasiando não todas, mas algumas vezes, uma situação inexistente. Agora, o ponto chave da questão a meu ver, é achar o exato equilíbrio entre o "se mostrar" e o "permanecer em segurança". Sou da época em que os arquivos e programas eram armazenados em fitas K7 - isso em 1985, aproximadamente - e acompanhei a evolução doa computadores e a chegada da Web ao Brasil; e digo a você que percebi que a vida na Web é a mesma que vivemos fora dela, com as mesmas pessoas querendo nos prejudicar, só que em uma escala muito maior, pois passamos a conhecer indivíduos mal intencionados - em larga escala, o que acho importante citar - que se escondem atrás de um *fake* ou de mentiras deslavadas nas salas de bate-papo. É isso o que a Web na minha concepção é: um universo que nos dá a possibilidade de conhecermos pessoas do outro lado do mundo, aumentando assim o risco de nos ferirmos psicologicamente ou fisicamente ainda mais.
ResponderExcluiro cuidado virtual deve ser o mesmo do real. mas, penso que devemos ter um olhar mais desconfiado porque no mundo virtual não temos a oportunidade do 'olho no olho' e arealidade fica muito solta.
ResponderExcluirTambém acompanhei toda essa evolução do mundo virtual e posso dizer que a vida está muito mais doida agora que as fronteiras acabaram e podemos falr, interagir e conhecer quem form, em qualquer lugar, em qualquer parte desse planeta.
É bom, mas é ruim. Há de se ter precaução!
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