Da Folha de São Paulo
Órgão compra US$ 3,48 bi em setembro e recupera todos os dólares que vendeu durante a crise financeira internacional
Aquisição da moeda eleva reservas internacionais ao nível recorde de US$ 225 bi; no acumulado do ano, US$ 9,8 bi entraram no país
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central aumentou o ritmo de compra de dólares em setembro, mês em que a cotação da moeda dos EUA caiu 6,24%, para R$ 1,77. Foram US$ 3,48 bilhões, maior intervenção para segurar a queda da divisa desde abril de 2008.
Com isso, a instituição já recomprou praticamente todos os dólares vendidos entre outubro e fevereiro, quando a crise financeira internacional interrompeu o fluxo de capitais para o Brasil. Dos US$ 14,5 bilhões vendidos no ápice da crise, foram recomprados até a semana passada US$ 14,3 bilhões.
Os dados também mostram que o BC está comprando dólares em valores acima da entrada de moeda estrangeira no país neste ano. Em setembro, o fluxo cambial -diferença entre os dólares que entram e saem do país- ficou em US$ 1,3 bilhão. Foi o sexto mês seguido de fluxo positivo. Desde o início do ano, o fluxo está positivo em US$ 9,8 bilhões, valor inferior aos dólares que o BC tirou do mercado por meio das suas intervenções: US$ 10,8 bilhões.
Para o diretor da Pioneer Corretora, João Medeiros Filho, as ofertas de ações que serão realizadas na Bolsa até o fim do ano vão continuar a alimentar o fluxo de dólares. Somente a oferta do Santander, que estreou ontem na Bolsa, deve trazer US$ 5 bilhões.
"Se o BC não comprasse dólares, já estaríamos abaixo de R$ 1,50. O fluxo continuará alto e o BC continuará comprando."
Já o diretor da corretora NGO, Sidnei Nehme, diz que, apesar do aumento das intervenções no câmbio em setembro, houve uma desaceleração no ritmo de compra de dólares no fim do mês. Para o economista, os bancos estão reduzindo as apostas na desvalorização da moeda norte-americana.
As compras de dólares realizadas pelo BC neste ano também ajudaram a reforçar as reservas internacionais, que atingiram no começo da semana o patamar recorde de US$ 225 bilhões, 9% acima do verificado no final de 2008. A maior parte desse dinheiro foi investida em títulos de governos estrangeiros, principalmente dos EUA.
As reservas funcionam como uma garantia para o país em momentos de crise. Graças a esse dinheiro, o Brasil deixou de ser devedor e é hoje credor em moeda estrangeira.
Por isso, o país busca papéis considerados de baixo risco para aplicar esse dinheiro. No fim de setembro, a aplicação das reservas na dívida de outros países ultrapassou o patamar recorde de US$ 200 bilhões. Foi o terceiro mês seguido de aumento nesse tipo de aplicação.
O BC não divulga quais títulos são esses. Mas dados do Tesouro americano mostram que, em junho, 75% desses papéis eram daquele país. Hoje, o Brasil é o quarto maior credor do governo dos EUA, atrás apenas de China, Japão e Reino Unido.
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