Sergio Lima - 15.set.09/Folha Imagem
Bolsa deve avanço a Lula, diz Mantega
Ministro rechaça crítica ao IOF, diz que não recuará e que Bovespa só chegou ao patamar atual graças ao governo Lula
Ministro da Fazenda afirma que objetivo da taxação do capital externo é conter queda contínua do dólar, que poderia chegar a R$ 1,30
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se o governo ficasse parado, o real se valorizaria a "ponto de o dólar valer R$ 1,30, R$ 1,40", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista à Folha. Para ele, os dirigentes da Bolsa "estão reclamando de barriga cheia" e não podem pensar só no "seu umbigo".
Ontem, ele se reuniu com o presidente da Bovespa, Edemir Pinto, que critica a criação do IOF de 2% sobre investimento estrangeiro em ações. "Nunca na história de um governo a Bolsa teve uma expansão tão fantástica quanto na nossa administração", defendeu-se Mantega, afirmando que a taxação é um recado aos que apostam que vão levar o dólar a R$ 1,30: "Tirem o cavalo da chuva porque não será assim".
FOLHA - O sr. não teme que o IOF seja insuficiente para conter a desvalorização do dólar?
GUIDO MANTEGA - A medida não vai modificar radicalmente a situação cambial. Não vai mudar o fato de que o real é uma moeda valorizada, porque a economia é firme e sólida. Porém, vai eliminar exageros, desequilíbrios que possam prejudicar a produção brasileira.
FOLHA - Se o dólar ficar na faixa de R$ 1,70, é razoável?
MANTEGA - Não trabalho com número fixo. O que poderia acontecer se nada fosse feito é o real se valorizar a ponto de o dólar valer R$ 1,30, R$ 1,40.
FOLHA - Essa era a perspectiva?
MANTEGA - Antes de a crise estourar, no início de 2008, o câmbio estava na casa do R$ 1,50, e nada indicava que iria parar aí. Se isso era verdade em 2008, hoje, quando a economia ficou mais forte e se destaca das outras, torna-se um alvo fácil da cobiça desse capital excedente no mundo. Isso distorce toda a lógica produtiva.
FOLHA - E as reclamações dos dirigentes da Bovespa, de que os recursos podem migrar para a Bolsa de Nova York?
MANTEGA - Estão chorando de barriga cheia, porque nunca na história de um governo a Bolsa de Valores teve uma expansão tão fantástica quanto na nossa administração. Tínhamos antes uma Bolsa diminuta, pequena, sem expressão econômica. Hoje é uma das maiores e melhores do mundo, e isso se deve às ações do governo Lula, tem de ser reconhecido. Agora, não dá para ter tudo.
FOLHA - O sr. acredita que estava se formando um bolha?
MANTEGA - Nós queremos evitar bolhas, e a bolha não é boa para ninguém. Eu entendo que, para eles, quanto mais operação, melhor. Mas o governo não pode olhar só o interesse específico de um setor, tem de olhar o conjunto do país, principalmente do emprego, da produção, e não da especulação. Eu sempre apostei e criei medidas para facilitar a expansão do mercado de capitais porque é a melhor maneira de trazer recurso barato para a produção, a empresa não se endivida, abre seu capital. Agora, sou contra exageros. Aí, me desculpe, se cada um está pensando no seu umbigo e no seu interesse pessoal e não vê as consequências para a economia, sou obrigado a ver, tenho de ter uma visão do todo e do futuro. Tenho de imaginar que ter uma bolha não é bom para a economia brasileira nem mesmo para a Bolsa.
FOLHA - Qual a avaliação do presidente Lula sobre a medida? Ele disse que pode reavaliar?
MANTEGA - Ele acha que foi uma boa medida e que temos de avaliar suas repercussões no tempo devido. Agora, você faz a medida, mas tem de esperar um tempo para que ela seja testada, demonstre sua eficácia ou não. Eu não vou mudar uma medida que acabei de fazer, ainda não deu para ver a repercussão, e confio que ela será positiva, vai cumprir seu objetivo.
Os que estavam apostando na queda contínua do dólar podem quebrar a cara. Não estou dizendo que não vai ter valorização do real, porque o real está fadado a ser forte pela solidez da economia brasileira. Mas estou dizendo que não haverá uma tendência unidirecional. Foi dado um recado àqueles que apostam que vão levar o dólar a valer R$ 1,30, tirem o cavalo da chuva porque não vai ser assim.
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