Lula tenta blindar Dilma e marcar diferença com 2001
Autor(es): Gerson Camarotti, Chico de Gois e Cristiane Jungblut
O Globo - 12/11/2009
Apagão caiu como uma bomba no Planalto, que teme efeitos na pré-candidatura da ministra, que já chefiou setor
BRASÍLIA. O apagão de terçafeira à noite e madrugada de ontem caiu como uma bomba no Palácio do Planalto. Irritado e, ao mesmo tempo, preocupado em blindar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, contra ataques da oposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou providências imediatas para que esse tipo de problema não se repita. A integrantes do governo e líderes da base aliada no Congresso, Lula deu a seguinte orientação: é preciso explicitar bem as diferenças entre o blecaute de 2001, que desgastou a administração tucana de Fernando Henrique, e o de agora.
O presidente fez questão de exercer esse papel. Em entrevista após almoço com o presidente de Israel, Shimon Peres, no Itamaraty, Lula descartou que o apagão tivesse ocorrido devido a problemas na geração de energia ou por falta de investimentos.
Ele afirmou que, em sete anos de seu governo, foram feitos 30% de todas as instalações de linhas de transmissão de energia no país em relação a 123 anos de História.
— É importante que a gente não faça nenhuma tese, mas sim que constate o fato. E, com o fato, a gente possa melhor informar à sociedade brasileira. O que aconteceu em 2001 era que a gente não produzia energia suficiente e não tinha linha de transmissão para interligar todo o sistema elétrico brasileiro — disse Lula. — Portanto, fizemos não apenas um forte investimento no setor de transmissão de energia, como um forte investimento na modernização do sistema energético.
Lula disse que não arriscaria, naquele momento, um palpite sobre as causas do apagão: — Também não quero culpar ninguém antecipadamente. Não vou chutar nesse assunto.
Nos bastidores, integrantes da cúpula do governo admitiram que a repercussão do episódio foi extremamente negativa, já que explicitou uma falha grave do sistema interligado. Um ministro chegou a comentar ontem que, se o apagão tivesse ocorrido no período eleitoral, seria um desastre para Dilma.
Houve um cuidado especial em blindar a ministra. O Planalto identificou que a oposição começaria a usar o apagão para atingi-la, principalmente porque ela foi ministra de Minas e Energia, é a arquiteta do novo marco regulatório do setor e, até hoje, tem grande influência na área.
Na estratégia de Lula, segundo interlocutores, a ideia é rechaçar até o uso da palavra apagão, afirmando sempre que foi um blecaute e que nada tem a ver com as condições do apagão ocorrido na era FH.
— Não houve problema de apagão, e sim um problema técnico menor, que foi resolvido imediatamente. Em quatro horas, a energia estava retomada.
Isso é bem diferente do racionamento de 2001. Se a oposição tentar comparar as duas situações, será um grande equívoco — disse o líder do PT, deputado Cândido Vaccarezza (SP), que estava em reunião com Lula para discutir o pré-sal na hora em que houve o apagão.
O ministro Lobão ainda teve que contornar um problema político, já que houve irritação de peemedebistas com declarações de assessores de Itaipu repassando a culpa a Furnas, controlada pelo partido.
Parlamentares aliados afirmaram que, se a causa do apagão for um problema estrutural, haverá custo político. Se foi um acidente, o governo conseguirá proteger Dilma.
Segundo um interlocutor do presidente, horas antes da reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, Lula foi enfático: se houvesse culpados, que estes fossem apontados.
— O presidente pediu nome e sobrenome. Disse que não admitia o fato de ninguém saber exatamente em que local houve o bloqueio.
Presidente estava reunido com Cabral e Hartung Lula ficou sabendo do apagão durante uma reunião com os governadores do Rio e do Espírito Santo, Sérgio Cabral e Paulo Hartung. Ele cobrou explicações de Lobão, presente ao encontro. O ministro fez ligações e, após cinco minutos, disse que questões meteorológicas haviam interferido na linha de transmissão de Itaipu.
— Quero mais informações.
Quero saber os detalhes — cobrou Lula.
Antes de deixar o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória da Presidência, ele voltou a deixar todos em alerta: — Telefonem para mim a qualquer hora
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