Inpe desmente a versão de Lobão
Tempo ruim na transmissão
Autor(es): Gustavo Paul, Mônica Tavares e Adauri Antunes Barbosa
O Globo - 12/11/2009
Ministro Lobão diz que conjunção de fatores climáticos anormais causou apagão
Chuvas, raios e ventos foram as causas do apagão que deixou às escuras — em alguns casos por mais de quatro horas, entre a noite de terça-feira e a madrugada de ontem — 18 estados brasileiros, afetou 45% do consumo de energia do país e colocou em ponto morto, pela primeira vez em 25 anos, todas as turbinas da maior hidrelétrica do mundo, Itaipu. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, alegou uma conjunção desses fatores, em escala acima do normal, como responsável pelo curto circuito em três linhas de transmissão que ligam Itaipu, no Paraná, à subestação de Itaberá, em São Paulo.
Esse evento desencadeou uma reação em cadeia no sistema elétrico, que desligou 15 outras linhas de transmissão.
Lobão participou de uma reunião com a cúpula do setor elétrico ontem para buscar as explicações para o maior blecaute brasileiro nos últimos dez anos. Para os presentes na reunião, o incidente poderia ter sido pior, atingindo maiores proporções e apagando todo o país. É o que diz o diretor de Operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, que admitiu não haver garantias de que o problema não possa ocorrer de novo. Segundo especialistas, o sistema não é invulnerável.
— É pouco provável, já que esse tipo de evento não ocorre comumente, mas não há como dizer que isso não irá se repetir — disse Barata.
Segundo Lobão, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que houve uma concentração muito grande de efeitos meteorológicos na região naquele momento: — O Brasil é o país onde há maior concentração destes fenômenos.
Ele insistiu que o sistema brasileiro é robusto e que não haverá novos problemas.
Armado com uma tabela de outros apagões ocorridos no mundo, o ministro disse que o caso brasileiro não é fato um isolado, e que o sistema nacional se destacou pela agilidade. Ele citou apagões ocorridos em 2003 na Costa Leste dos EUA e no Canadá, quando a energia só foi recomposta em quatro dias, e na Itália, quando as luzes se apagaram por 24 horas: — O sistema brasileiro é muito bom, não é frágil e conseguiu se recompor rapidamente.
O governo descartou outras possibilidades para o apagão, particularmente um ataque de hackers.
— Estamos dizendo exatamente o que aconteceu — afirmou Lobão.
O desligamento de três linhas de transmissão de Itaipu desencadearam problemas em cascata. Para evitar que o problema se espraiasse e equipamentos fossem danificados em todo o país, o sistema elétrico desligou automaticamente as outras duas linhas de transmissão de Itaipu. Depois, foram caindo as linhas que ligam a subestação de Tijuco Preto (SP) à capital paulista e, de lá, as linhas para o Rio e o Espírito Santo. No mesmo instante, as usinas hidrelétricas paulistas foram apagadas. As últimas a sofrerem consequências foram as usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2.
Esse efeito dominó foi a razão para que o Rio de Janeiro fosse o estado mais afetado pelo apagão.
— O Rio está na ponta do sistema — disse Barata, do ONS.
Ontem à noite, a operação das duas usinas estava voltando ao normal. Segundo o ONS também estão ligadas as termelétricas Termorio, Norte Fluminense e Leonel Brizola. As três foram desligadas ontem após a hora de pico.
Essas térmicas não foram acionadas no momento da crise, pois o governo achou que o problema teria solução rápida. Uma térmica leva cerca de quatro horas para ser ligada. O blecaute no Sistema Interligado Nacional teve início às 22h13m e causou o apagão total em quatro estados e parcial em outros 14. Ao todo, deixaram de ser gerados 28,8 mil MW de energia, ou 45% da energia demandada na hora.
Inpe: possibilidade de raio é remota
As panes ocorreram no sistema que liga a cidade de Ivaiporã, no centro do Paraná, a Itaberá, no sul de São Paulo, e em uma subestação que liga a Subestação de Itaberá a Subestação de Tijuco Preto, em São Paulo. Sem o funcionamento das cinco linhas de transmissão de Itaipu, as 18 turbinas da usina deixaram de gerar 12 mil MW.
A energia foi totalmente restabelecida uma hora após o início do blecaute, exceto nos estados do Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio e São Paulo, o que ocorreu só ao longo da madrugada. Sem estatísticas e dados detalhados sobre o apagão, Lobão não perdeu a oportunidade de criticar o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, salientando que o apagão de ontem é menor do que o ocorrido no governo passado: — Em 1999, desligou-se 70% da energia. Em 2002, foi 60% e agora apenas 40%. Nenhum governo fez tanto em investimento como o atual.
Apontada pelo Ministério das MInas e Energia como o epicentro do apagão elétrico, a pequena cidade de Itaberá (a 320 quilômetros ao Sul de São Paulo), permaneceu iluminada na terça-feira à noite, no momento do blecaute, segundo seu prefeito, Walter Sergio de Souza Almeida (DEM): — Eu nem sabia que o ocorrido tinha a ver com Itaberá. Aqui choveu à noite, mas não faltou luz e só aconteceu uma pequena falha.
Análise de técnicos do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), sugere que são mínimas as possibilidades de um raio ter sido a causa do apagão.
“Embora houvesse uma tempestade na região próxima a Itaberá, com atividade de descargas no horário do apagão, as descargas mais próximas do sistema elétrico estavam a cerca de 30 quilômetros da subestação de Itaberá e a cerca de 10 quilômetros de uma das linhas de Furnas de 750 kV e cerca de 2 quilômetros de uma das linhas de 600 kV, que saem de Itaipu em direção a São Paulo”, informa nota do Inpe.
Segundo o coordenador do Elat, Osmar Pinto Junior, o apagão foi o segundo maior do país.
— Tudo indica que houve uma pane elétrica do sistema — disse. — Não significa que ele seja obsoleto ou que precise urgentemente de manutenção
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