terça-feira, 17 de novembro de 2009

Setor automotivo tem 1º deficit

Da Folha de São Paulo
Valorização do câmbio e crise provocam saldo negativo de US$ 2,5 bi na balança comercial entre janeiro e setembro

Montadoras representam US$ 1,5 bilhão do deficit total, que inclui ainda autopeças e máquinas agrícolas e rodoviárias

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O setor automotivo terá neste ano, como sequela da crise global e efeito da valorização do câmbio, seu primeiro deficit na balança comercial desde 1998.
A retração nos principais mercados de exportação do país, combinada com o avanço das importações de veículos no ano, já provocou um saldo negativo de US$ 2,5 bilhões entre janeiro e setembro. A conta leva em consideração também autopeças e máquinas agrícolas e rodoviárias.
Só as montadoras acumulam deficit de US$ 1,5 bilhão.
Em volume, foram exportados 371 mil veículos (incluindo carros de passeio, caminhões e ônibus) nos dez primeiros meses do ano, uma queda de 42% ante igual período de 2008. Já a entrada de importados avançou 21,6% e chegou a 386 mil.
"Naturalmente, teremos deficit neste ano por conta da queda drástica das exportações de autoveículos", diz o presidente da Anfavea (associação das montadoras), Jackson Schneider.
A crise provocou encolhimento nos principais mercados de exportação brasileiros, como Argentina e México.
De acordo com Schneider, a reversão do quadro deficitário dependerá, em primeiro lugar, do retorno desses mercados e, em segundo, da capacidade que o país terá para garantir competitividade no exterior.
Ele estima que a demanda global começará a reagir a partir do segundo trimestre de 2010. Mas a indústria terá de reconquistar o espaço perdido.
"A valorização do real deixa os produtos menos competitivos. Mas há outras questões estruturais que afetam a competitividade, como os problemas tributários, de logística, além do custo de capital. Tudo isso demanda tempo para resolver."
"E o mercado de exportação é muito difícil para entrar, mas muito fácil para sair."
O setor de autopeças já vai para o terceiro ano consecutivo de deficit. Neste ano, até setembro, o saldo negativo chega a US$ 1,76 bilhão.
Para o presidente do Sindipeças, Paulo Butori, a redução nas alíquotas de importação de peças foi o primeiro golpe na indústria, que já havia consolidado uma balança comercial superavitária.
"Com a diminuição do imposto, há cerca de quatro anos, as subsidiárias instaladas aqui passaram a importar muito mais das matrizes em vez de produzir internamente."
E a valorização cambial acabou por intensificar esse processo, já que os importados ficam mais baratos", acrescenta.
Ao mesmo tempo em que houve aumento de produtos estrangeiros no país, caíram as exportações do setor.
Em 2008, as vendas externas respondiam por 22% da produção. Para este ano, a previsão do Sindipeças é que encerrem com uma fatia de 12%.
Se ainda não há um processo evidente de desindustrialização, graças ao aquecimento do mercado interno de veículos, os investimentos do setor e a geração de empregos diminuem, segundo Butori.
O deficit no setor automotivo, tradicionalmente superavitário, é um fato emblemático e de maior gravidade para a economia como um todo, afirma Augusto Castro, diretor da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
"A indústria automotiva era muito importante para a geração de superavit na balança comercial. O efeito [do deficit] é que a pauta de exportações fica mais e mais dependente das commodities." Castro argumenta que é mais difícil para o país planejar as exportações de commodities, já que não é formador de preços nem volumes.

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Calo-me...(da série #resgates)

*A partir de hj, sempre que eu resgatar algum texto meu escrito e não publicado, vou postar aqui. O que é escrito é para ser publicado....